Hoje estou em um daqueles dias em que tudo me revolta, tudo me dá raiva, tudo me tira do sério. Fico pasma com a capacidade que nós temos em foder a vida das pessoas que nos rodeiam. Algumas a gente ama, outras apenas conhecemos, e às vezes, nem chegamos tão longe.
Não queria ser mais uma dessas cretinas, que se perguntam todos os dias à que vieram a esse mundo podre, cheio de piranhas e canalhas. Mas infelizmente, por muitas vezes me sinto assim, sempre querendo saber se ainda existe chão em baixo dos meus pés, ou se o mundo já acabou e eu nem percebi.
O que mais me preocupa é o não saber, se não sei, como continuar? Se minhas bases estão abaladas, se a pessoa na qual depositei minha total lealdade não me nota, não me inclui na sua vida, não me ama do jeito que eu gostaria e sequer me coloca na sua página do Orkut.
Minha mãe é uma vadia e meu pai é um corno assumido. Meu irmão é um filho de uma puta que reclama do tênis mormaii que custou só quinhentos reias. Minha irmã, uma tapada que se encheu de filhos para garantir o casamento. E eu, mais uma filha de uma puta que nasceu na família errada, que busquei casar o mais rápido que pude para fugir da porra da vida fodida que levava.
Como vou saber se não sou mais uma vadia na família? Como saber do por que gostamos de ferrar os outros filhos de uma puta, que se sentem do mesmo jeito? Como saber se meu marido me ama do jeito que gostaria?
Quer saber? Acho que tenho uma razão para continuar essa merda de vida que levo: Fazer mais pessoas fodidas e mal pagas como eu, se sentirem do mesmo jeito.
Fiquei irada com uma rampeira que se dizia minha amiga, mas depois parei para pensar no que ela queria. Concluí que sua intenção camuflada, obviamente era dar o rabo para o meu marido e garantir que eu não daria para o marido dela. Tive vontade de arrastar aquela cara sebosa e aquelas tetas velhas e murchas nos paralelepípedos irregulares e pontiagudos da rua. Percebi que eu não precisava ter aquele sentimento raivoso com aquela piranha filha de uma rampeira, que nasceu em uma sexta – feira treze porque sua mãe não conseguiu concluir o aborto. A pobre velha se pergunta até hoje o que deu errado. A vida é assim, alguns nascem enquanto outros são escarrados útero afora. O destino já havia feito isso por mim. Além do mais, não valeria a pena gastar minha beleza e a maciez da minha pele. O filho da puta do corno do marido dela que sustente o peso dos chifres, vai ver até goste de assistir a puta esfregar aqueles beiços velhos e fedorentos de sua buceta, na cara de qualquer trouxa que aparece á sua frente.
Quem será que colocou essa revolta fascinante em mim? Eu não sei, mas me sinto bem com ela, é uma companheira fiel nunca me abandona. Quando vou me livrar desse povinho medíocre que me fala todos os dias: “Bom dia tudo bem?”. Se quiserem mesmo saber, não está bem é porra nenhuma, seus tapados. Olhem à sua volta, respirem o ar podre que respiro, pisem nas mesmas merdas que eu piso. Quero ver se vão rir e se vão dizer que pisar em merda é dinheiro, filhos da puta. Levem guampa como eu levo, passem fome como eu passo, devam até os cabelos para os ratos como eu devo, percam a merda do ônibus e sejam mijados pelo porra do chefe como eu sou. Saiam pelas ruas e ouçam os tarados gritando quanto é o programa, como eu ouço. Quero ver se ainda terão alegria para perguntar se está tudo bem. Não sou amarga nem infeliz, muito menos uma pessoa mal amada, apenas não sei o que são essas porras todas, tentem me entender.
Não tenho esperança de que as coisas irão mudar, não sei se vou conseguir parar a tempo de não virar uma prostituda de beira de estrada, não sei se vou conseguir não matar o desgraçado do meu marido, não sei também se ele se importa com alguma das ameaças que lhe fiz, mas o que conforta é que tenho um futuro garantido, uma maloca ou o presídio.
Mas acho que vai demorar um pouco até os tapados da civil descobrirem o paradeiro da Raquel, a vagabunda que meu marido comeu em uma cidade vizinha. Ele me confessou. O garanhão, em uma de suas crises de sinceridade, me contou, achando que eu mais uma vez o perdoaria, só porque ela era casada, ele pensava que isso não iria me abalar. Pois fiz questão de inventar um exame na mesma cidade, e ainda fiz questão também, de dar o rabo para aquele broxa do marido dela, antes de enfiar aquela linda faca na sua boca e sentir o estalo dela quando saiu na sua nuca. Depois fui fazer as unhas no salão em que Raquel trabalhava, fizemos amizade e a convidei para ir ao cinema. O mesmo cinema que o viado do meu marido a levava. Depois disso, fiz questão de levar minha amiga em casa, passar pela ponte do Guaíba e largar ela com uma bela pedra e uma senhora de uma corda amarrada em seu lindo pescoço. Coitadinha, tinham que ver o seu olhar apavorado ao saber quem eu era antes de ser empurrada e cair lindamente daquela ponte. Foi a parte mais difícil, mas também a mais gratificante, poder chegar em casa e olhar para o meu marido e saber que ele é um corno e que sua puta vip, está bem no fundo da minha memória.
Agora, sabendo um pouco mais da vida das amantes do corno do meu marido, elas estranhamente começaram a desaparecer. Como ele ficou abalado ao saber que suas queridinhas haviam sumido. Inexplicavelmente ele voltou a me querer, mas por pouco tempo, sei que não ficará distante de suas vadias, ele vai adorar vê-las outra vez.
Amor. Um dia te chamei assim, hoje te entrego para os seus cinco amores, para que vivam no inferno por toda a eternidade. Agora sabes que não dá para fazer bem escondido. Vá e não me olhe com medo, a ponte não é tão alta assim. Estou de dando a liberdade que você sempre me pediu.
Confesso. Não sou maníaca e muito menos uma psicopata, sou apenas uma mulher, hoje com vinte e um anos de idade, que vem sendo enganada pela própria vida. Não fiz nada errado, apenas dei um futuro para a merda da minha vida, e sinceramente, me sinto como uma sombra bem escura que ficou no mundo para terminar o que o capeta começou.
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