sexta-feira, 1 de outubro de 2010

O Preço do Prazer.

Não sei como foi que tudo começou, tenho apenas vagas lembranças na memória, que me atormentam até hoje. Não sabia ao certo o que o porco do Elói queria ao me levar para aquele quarto escuro e fedorento, mas depois de meia hora, eu soube pelo meio mais difícil, o que era. Por que não gritei ou pedi socorro? Acho que no fundo eu sabia que não tinha escolha, e foi aí que tudo começou.
Primeiro foi o desgraçado do Elói, depois vieram os outros, sempre com a mesma vontade, comer uma menina de doze anos em troca de um prato de comida. Depois, aos poucos, troquei a comida por dinheiro. Foi também quando comecei a me enganar, a achar que algum dia tudo aquilo iria terminar. Grande estupidez, foi cada vez ficando pior, passei a beber frequentemente, a me drogar de vez em quando, e a não aceitar mais que me trancassem naquele lugar.
Então, com apenas quatorze anos, fugi. Fui à busca da liberdade que tanto sonhava. Acabei ficando na rua, sem comida e sem ter onde dormir. Voltei para o mesmo mundo desgraçado do qual fugi, porém em um lugar diferente. Comecei a me prostituir novamente, ao lado do cemitério, primeiro por um prato de comida e depois para comprar crack, que amenizava a dor das brigas, com as outras vadias, por causa dos pontos, e também para espantar aquele frio infernal que aquele inverno fez.
Continuei nessa vida, não dormia, não comia e não tomava banho. Não escolhia clientes e muitas vezes, recebia tabefes, puxões de cabelo, chutes no ventre como forma de pagamento daqueles porcos, tarados filhos de uma puta. Até que conheci o Tony, um cafetão de quinta que prometeu me ajudar, me deu casa, banho, roupas, tratamento para largar as drogas, e dinheiro. Tornei-me a prostituta mais procurada naquele lugar, não era para menos, aqueles turistas tarados pagavam muito caro para foder com uma menina nova e de pele macia. Comecei a me erguer, Tony até comprou uma casa para nós. Porém, quando pensei que conseguiria sair daquele mundo, veio outra porrada no útero, o desgraçado, filho de uma puta do Tony, me cobrou a dívida por ter me ajudado.
Tinha que fazer programas todas as noites, doze horas seguidas e de todo o dinheiro que ganhava, noventa por cento tinha que repassar para aquele cafetão filho da puta. Ele não imaginava o tamanho do ódio que eu sentia por ele e que aquela situação não iria muito longe. Um dia fui atender o seu cliente vip, um engenheiro gordo e fedorento, que para completar,  era brocha, mal conseguia manter seu pau duro por mais de trinta segundos, quando ejaculava e grunhia feito um porco no abate. Fiz aquele programa e no final, quando recebi aquela grana toda, atendi seu último pedido, preparei um uísque com duas pedras de gelo, claro que ele não contava com a perigosa mistura de álcool e veneno que coloquei em seu drink. Confesso que pela primeira vez tive um orgasmo quando vi aquele fedorento se contorcendo no chão, vomitando sangue e revirando os olhos, estendendo sua mão balofa na minha direção, querendo que eu o ajudasse. E ajudei. Qualquer homem sonharia em morrer assim, com a boca enfiada numa vagina. Não pensei duas vezes e sentei em cima daquela cabeça gorda. – “Quer comer ninfetinha? Seu viado! Então toma. Sinta o gosto de uma pela última vez antes de beijar o diabo e mandar minhas singelas lembranças”. Depois de acabar com aquele gordo fedorento, havia chegado a hora de efetuar o pagamento para o Tony. Tudo conforme o de costume. Só fiz mudar o lugar do encontro. Liguei para ele avisando do novo local. Ele quis saber o motivo da mudança de lugar. Disse que no outro dia eu tinha que esperar a ligação de um empresário italiano para confirmar mais um programa, que renderia muita grana se eu satisfizesse seus caprichos um tanto quanto bizarros.
Nem mosquitos se arriscavam em ficar naquele morro à noite, de tanto medo que o lugar causava. Eu gostava de lá, especialmente do mirante com a imagem de São João Batista, que dava vista para todo o centro da cidade, que parecia um enxame de vaga-lumes. Quando Tony chegou eu comecei a conversa lhe oferecendo uma lata de cerveja, e terminei com um fio de luz amarrado em seu pescoço. Depois de enforcar aquele viado, não sabia o que faria com aquele filho da puta. Jogá-lo morro abaixo seria burrice.
Acordei feliz. Dormi como nunca havia dormido antes em toda minha vida. Preparei um chá e fui ler o jornal do dia. Tony estava lindo, sua foto estampada na primeira página ficou sublime. Não sabia que ele era tão fotogênico, com a boca aberta e algumas vespas sugando um fio de baba que escorria pelo canto da sua boca. A manchete até que era chamativa: “Cafetão é encontrado enforcado em uma goiabeira no topo do morro”. Nas letras miúdas estava escrito que a polícia acreditava que Tony foi morto devido às dívidas com traficantes.
O chá estava uma delícia.


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