terça-feira, 17 de maio de 2011

Odeio a tua mãe.

- Hoje vou fazer faxina amor, você vai trabalhar e quando chegar, a casa vai estar limpinha e ainda vou fazer pra você aquele pudim que você adora.
- Vou trabalhar até a meia noite e meia.
- Está bem, vou tentar te esperar acordada.
- Não precisa minha gatinha, descansa tá! Beijo. Já estou atrasado.
- Tchau e bom serviço.
“Muito bem estou sozinha agora vou curtir uma música e começar a limpeza, esta casa está imunda, nunca vi, moramos somente nós dois e a casa está sempre podre”.
No meio da faxina o computador se desligou sozinho e ao mesmo tempo a campainha tocou, era a minha mãe que veio me fazer uma visita e aproveitar para fazer as unhas.
- Oi mãe, como está? Estou fazendo faxina. Entre.
- Tá bom filha. Quer ajuda em alguma coisa?
- Coloque uma água esquentar para fazermos um chimarrão, enquanto isso eu termino o serviço e ligo para o Rubens vir ligar a porra do computador antes que eu quebre essa merda.
Meia hora depois Rubens chegou, não trocou uma palavra, ligou a merda do computador, que só para de funcionar comigo, e voltou para o serviço do mesmo jeito que chegou. Eu sabia que ele detestava minha mãe, mas o que eu iria fazer? Não podia bater a porta na cara da minha própria mãe.
Ela percebeu tamanha revolta e decidiu ir para casa, com a desculpa que teria de recolher a roupa do varal. Fiquei mal. Dez minutos depois que ela saiu, meu telefone deu alerta de mensagem. Fui ler e vi que era o Rubens dizendo: “Sabe que odeio sua mãe e está na hora de você escolher entre eu e ela”. Porra! Eu não sabia nem o que responder, mas sabia que viria chumbo grosso pela frente. Fiquei em silêncio, não respondi e não liguei para ele, apenas fiquei esperando ele retornar do serviço. Não aguentei a espera e acabei adormecendo.
Foi inevitável não acordar quando ele chegou e abriu a porta com tamanha violência que por pouco os vidros da basculante não se quebraram. Estava feita a merda. Fiquei ouvindo seus gritos, suas lamúrias e xingamentos até às três da manhã, quando, vencido pelo cansaço, ele finalmente dormiu.
Quando o sol invadiu o quarto através da vidraça da janela, eu acordei assustada, decidida a ir embora. Passei um café e entrei pé por pé no quarto para pegar a minha roupa. Nesse momento Rubens acordou, me deu bom dia, me pediu um café e um cigarro, como se nada tivesse acontecido. Enquanto fumava e tomava café, ele me convidou para darmos um passeio pelo interior do município, dizendo que queria me mostrar alguns locais de rara beleza que havia descoberto em suas patrulhas durante o serviço.
Eu aceitei, pois precisava contar a ele a minha decisão. No meio do passeio eu puxei o assunto, mas na mesma hora o carro pifou, para variar, o motor ferveu, e para piorar ainda mais a situação, a estrada onde paramos era no topo de um morro, à beira de um penhasco. Só poderia ser praga de sogra, pois eu morro de medo de altura.
Rubens não me deu ouvidos, desceu do carro e pediu para eu abrir o capô dianteiro. Eu estava com medo, quase paralisada, mas aquela discussão da noite anterior não me saía da cabeça. Abri o capô e liguei o carro quando ele pediu. Enquanto ele mexia no motor ou sei lá onde, eu ficava martelando suas palavras da noite anterior – Eu odeio sua mãe, entendeu? Eu odeio sua mãe -.  Foi então que uma solução para tudo me ocorreu. Sem que ele percebesse, engatei a primeira marcha no carro, soltei o freio de mão e acelerei. O carro deu um solavanco para frente enquanto eu me jogava para fora. Rubens, que estava mexendo no radiador, foi golpeado pelo capô, que bateu em sua cabeça, fazendo seu corpo pender por cima do motor enquanto o carro despencava ribanceira abaixo, fazendo um barulho aterrador. Não sei se meus ouvidos me traíram, mas juro que ouvi seus ossos estalando.
- Esqueci de dizer, querido. Já fiz a minha escolha. E eu também odeio a sua mãe.

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