No meio da noite acordo pensando em você. Resolvo então te fazer uma linda surpresa. Chego a sua casa. São quase duas horas da madrugada. As luzes do seu quarto estão acesas. Acho estranho. Faço a volta no quintal e ouço, pela janela do seu quarto, você dizendo à outra pessoa “eu te amo”.
Meu mundo se acaba ali mesmo. Tudo desmorona. Tudo escurece. Nada mais ouço ou vejo. O mundo fechou-se de uma vez e a fenda sob meus pés torna-se abissal. Fico sem saber o que fazer. Decido então sair dali. Na verdade, sumir.
A raiva e o ciúme inundaram não só meus olhos, mas minha alma. Pensar que o homem que eu mais amei foi para a cama com outra foi o fim para mim.
Encho a cara para passar a dor. A cerveja é o remédio para o amor e para o par de chifres que eu levei. Demoro em processar as informações e aos poucos, as desculpas que você me dava para não sair comigo esta noite vão se encaixando. Cada vez mais vou te odiando. Meu Deus, por que você fez isso comigo? Falta de sexo não foi. Estou ficando louca e bebo cada vez mais. Decido pelo fim. Pelo fim de nosso relacionamento, pelo fim do amor, pelo fim de tudo, inclusive, pelo fim da minha vida.
O dia amanhece. Vou cambaleante até a frente da sua casa. O caminhão do lixo já dobrou a esquina e se aproxima. Meus passos, mesmo trôpegos, seguem para o meio da rua. Faltam poucos metros. A garoa é minha aliada. A porta da sua casa se abre. O caminhão freia, mas não evita o impacto. Deitada, num último suspiro, numa última visão, vejo você de mãos dadas com sua filhinha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário