terça-feira, 17 de maio de 2011

Sentimentos Mortais.


Sete e trinta da manhã. O despertador do celular castiga meus ouvidos. Odeio acordar cedo, ainda mais na TPM. Sem querer e já querendo, acabei acordando meu veio – apelido carinhoso do meu amor que me trata sempre como gatinha. Ele se virou na cama e me perguntou o que houve.
- Acordei com o útero virado hoje.
- Por quê? Gatinha?
- Pare e pense. São oito horas da manhã. Tenho que sair da cama, pegar a moto e andar treze quilômetros para ir limpar a casa da toupeira do Zé, que está dando em cima de mim há mais de um ano. Quer mais algum motivo?
- Não necessita.
O telefone toca.
- Mas que merda! Tinha que ser aquele estrupício do Zé. Alô!!
- Zuliana! Zá tá vindo?
- Não! Estou andando de avião. Eu já estou indo. Merda! Espera que daqui a pouco estou aí.
- Tá bom. Não picisa me cingar. É que eu zá fiz o cimarrão.
Terminei de me arrumar e peguei a moto. Não fosse pelo salário já teria enfiado uma taquara rachada no rabo daquele cretino, que para piorar não sabe sequer falar direito. Sua sorte é ser parente da minha mãe. Mas eu não estava nos meus dias e já não aguentava mais ver aquela cara de plástica mal feita.
Mal desci da moto e ele já veio.
- Bom dia. Pui quê demorou tanto?
- Porque eu estava fazendo um boquete na tua mãe.
Mal entrei na casa para começar a arrumar a bagunça daquele borracheiro fedorento e ele já pregou no meu pé feito carrapato.
- Saia daqui e vê se some lá na borracharia. Eu tenho que limpar esse chiqueiro. E vê se não me atrapalha.
- Mas não picisa limpar nada. Só me faz companhia pra tomar cimarrão que eu limpo depois.
- Zé. Pra começar, é chimarrão e o meu trabalho é limpar a tua casa. Então, desapareça daqui.
- Mas pui quê tu ficou baba? Não ganhou em casa hoze? Eu te dou. Tu sabe que eu tenho um sentimento por ti.
- É? Então tu vai sentir outro sentimento vindo de mim, dor. Some daqui o desencarnado.
- Mas eu te amo. Hoze eu acordei pensando em ti. Disse pra mim mesmo que hoze eu vou te levar pra cama.
- Mas não seja por isso. eu trago a cama até você em forma de porrada. Seu filho da puta. Me deixa sozinha, por favor.
- Mas daí é a morte.
- Eu vou te dar um bezo na boca. Eu te amo. O teu maridinho nunca vai saber. Pra que te guardar tanto? Enquanto tu tá aqui trabalhando ele tá lá com outra. Pensa que é só pra me azudar com meu problema. Tu sabe que eu tenho pedra nos rins e cada vez que eu fico com vontade de tanzar me dói os ovos. É só uma vez, nunca ninguém vai descobir.
“Meu Deus. Tu viu que eu tentei, que eu fui paciente. Eu aguentei mais de um ano aqui nesse inferno e que além de feio, é mais burro do que qualquer burro que já apareceu na face da terra”.
- Tudo bem. Então vamos lá Zé. Vai lá e te deita na cama, tira a roupa que eu vou fechar a borracharia primeiro para ninguém nos atrapalhar.
- Eu sabia que tu não ia resisti ao meu sarme. Zá to excitado.
Calmamente me dirijo até a borracharia, demoro um pouquinho e fecho as portas. Volto para a casa e paro na porta do quarto.
- Tenho uma fantasia que quero realizar com você Zé. Eu vou amarrar os teus braços, vou vendar os teus olhos e vou ficar por cima de você. Vamos brincar de andar de cavalinho.
Ele virou em sorriso e disse enquanto eu amarrava seus braços na cabeceira da cama.
- Tudo bem, eu sou um cavalo, mas tem que ser banco.
- Agora pensa que teu sofrimento com os rins vai acabar agora meu cavalinho branco. Abra bem as pernas garanhão.
Cheguei em casa e tomei um demorado banho e me perfumei toda para esperar meu véio chegar. Jantamos, tomamos umas cervejas e trepamos como animais no cio. Depois de ascendermos nossos cigarros ele me perguntou.
- Então? Como foi com o Zé?
- Resolvi meu problema com ele, definitivamente. O filho da puta passou da conta hoje. Queria a todo custo me comer. Eu já não aguentava mais aquela situação e resolvi por um fim nessa história.
- O que foi que você fez?
- Fiz de conta que aceitei trepar com aquele velho desgraçado. Mandei ele deitar pelado na cama e menti que tinha uma fantasia sexual e queria realizar com ele.
- Sério? Me conta.
- Disse para ele me esperar enquanto eu fechava a borracharia. Sem ele perceber eu peguei uma marreta que ele usava para tirar pneus de trator e deixei no lado da porta do quarto. Então amarrei aquele estrupício na cama e vendei os olhos dele. O velho bicha quase gozou só em saber da sacanagem. Topou na hora. Depois que ele estava bem amarrado, mandei ele abrir bem as pernas.
- E aí? O que aconteceu?
- Cruzes! Véio! A marretada pegou bem no meio dos ovos daquele filho da puta. Esparramou meleca para tudo quanto foi lado.
- Jesus! Até meus ovos doeram. Você é uma gatinha muito má. Deus me livre.Ele morreu?
- Da marretada não. Mas duvido muito que tenha escapado do fogo. Sabe como é meu veio, essas borracharias antigas sempre dão problema na fiação. Quando o fogo começou a tomar conta de tudo eu saí gritando como uma louca, pedindo socorro. Infelizmente o tadinho não conseguiu se salvar. Os bombeiros só acharam um montinho de carvão no meio da cama. Não está vendo como eu estou traumatizada?

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