sexta-feira, 27 de maio de 2011

Mulherzinha.




O carro não pegou de novo! Mato o filho da puta que inventou essas locomotivas velhas com rodas e volante que fedem a gasolina e carro de cafetões. Todos os dias é a mesma porcaria, empurra carro, busca cerveja, faz um boquete e ainda tem que fazer comida.
Muito pior é chegar em casa ver aquela polha  gorda e peidorreira deitado na cama, fumando, tomando café e discutindo com o raio da ex mulher pela internet. Pobre é bicho miserável mesmo, não tem dinheiro para comer, mas para pagar a internet sempre tem, sem contar a garrafa de vinho que nem os alcoólatras teem coragem de beber. 
Tenho que relevar muitas coisas, não é todo dia que arrumamos um trouxa que aceite casar, ficar barrigudo, dar uma trepada de vez em quando, e ainda por cima dar um plano de saúde que nem um sem teto contrataria.
Mas a discussão à distância não estava nem perto do fim, foram horas a fio que sobrou até para o computador, então caí na besteira de perguntar o que estava acontecendo.
- Então? Não vai me falar nada?
- Vai te foder mulher! To de saco cheio de vocês, só querem dinheiro.
- Quero saber que diabo está acontecendo, não para de digitar naquela merda, fica xingando até os peidos que você mesmo solta. Late, vomita esse enxame de abelhas.
- Tu acredita que a vaca da ex finalmente vai foder comigo? Além da pensão agora quer uma casa.
- E o que você pretende fazer?
- Se eu soubesse não estaria discutindo com ela!
- Cavalo! Não fala mais comigo.
- Tá! Pare de drama e cale essa boca, me deixa falar. Discutimos sobre tudo, chegamos ao acordo da pensão, o resto me nego a pagar. Então vamos para a frente do juiz e ele resolverá.
- Tudo bem. Quer tomar uma cervejinha antes da janta?
- Que pergunta, tu já abriu ou tá difícil? Ah esqueci  de te contar que ela falou que tu é uma mulherzinha e que só se casou comigo pelo dinheiro.
“ Vaca! Me chame de vadia mas de mulherzinha não! Paguei muita conta que aquela piranha deixou para agora me vir com essa. Te mostro a mulherzinha. Sua Vaca!”
- O que tu ta resmungando aí? Ficou brabinha?
- Não. Caralho, machuquei o dedo na garrafa só isso.
- Sei. Te conheço e não é de hoje.
- Não enche o saco, e bebe essa porra de cerveja, antes que a discussão seja entre eu e você.
Uma semana depois a poeira já tinha baixado, então resolvi pedir um dinheirinho pra mandar um cachecol que havia feito para uma amiga minha e tinha que ser via sedex, sabe como é, às vezes precisamos lembrar as amigas.
- Véio. Me dá vinte reias para mandar uma lembrancinha para minha amiga que está de aniversário hoje?
- Quem tá de aniversário é ela e quem paga sou eu? To loco!
- Só dessa vez, eu prometo.
- Pega na carteira. E eu vou me lembrar da promessa.
“ Enganei direitinho. Agora vou mandar esse belo presente anônimo para aquela vaca e mostrar para ela quem é a verdadeira mulherzinha.”
- Amor! Já volto.
- Te some e fecha o caralho da porta.
Dois dias depois, eu estava na cozinha pegando uma cervejinha, enquanto a polha estava no quarto assistindo televisão, quando ouvi o grito:
- Caralho!Puta merda!
- O que houve?
- Deu merda!
- Mas que porra! Fala logo!
- Fodeu! Caralho! Fodeu!
- Fodeu o que? Fala Homem de Deus!
- Merda! Droga! E agora?
- Fala logo! Anda que já me irritei.
- Olha lá, explodiu uma bomba no prédio que a ex mora.
- O que? Mas Como?
- Explodindo! Não tá vendo?
- Ela morreu?
- Não foi minha mãe!
- Mas a tua mãe estava lá?
- Aí mulher! Não porra! A ex morreu!
- Ah. Coitada. Quem é mulherzinha agora?
- O que tu falou?
- Nada! Meu trouxinha.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

A separação é a melhor solução.


Detestava ter que odiar você, mas infelizmente foi você que fez nascer em mim esse sentimento. Por tantas vezes te pedi para não matar o amor que eu sentia por você. Mas você sempre pagava para ver, nunca me escutou. Jamais passou pela sua cabeça que eu precisava de carinho, você só pensava na sua cervejada das cinco.
Tantas vezes te pedi o divórcio e você ficava chorando feito um bebezinho, ainda tinha coragem de me pedir para pegar mais uma cerveja.
- Assine logo esses papéis antes que eu mate você. Largue esta garrafa e pare de beber. Você sabe que a separação é a melhor solução para nós.
Você nunca quis assinar o divórcio e sempre dizia que iria me deixar presa para o resto da vida.
A separação realmente foi a melhor solução. Hoje estou aqui, pagando a minha pena por ter separado cada membro flácido da destilaria que você considerava corpo.

Cianureto.


No meio da noite acordo pensando em você. Resolvo então te fazer uma linda surpresa. Chego a sua casa. São quase duas horas da madrugada. As luzes do seu quarto estão acesas. Acho estranho. Faço a volta no quintal e ouço, pela janela do seu quarto, você dizendo à outra pessoa “eu te amo”.
Meu mundo se acaba ali mesmo. Tudo desmorona. Tudo escurece. Nada mais ouço ou vejo. O mundo fechou-se de uma vez e a fenda sob meus pés torna-se abissal. Fico sem saber o que fazer. Decido então sair dali. Na verdade, sumir.
A raiva e o ciúme inundaram não só meus olhos, mas minha alma. Pensar que o homem que eu mais amei foi para a cama com outra foi o fim para mim.
Encho a cara para passar a dor. A cerveja é o remédio para o amor e para o par de chifres que eu levei. Demoro em processar as informações e aos poucos, as desculpas que você me dava para não sair comigo esta noite vão se encaixando. Cada vez mais vou te odiando. Meu Deus, por que você fez isso comigo? Falta de sexo não foi. Estou ficando louca e bebo cada vez mais. Decido pelo fim. Pelo fim de nosso relacionamento, pelo fim do amor, pelo fim de tudo, inclusive, pelo fim da minha vida.
O dia amanhece. Vou cambaleante até a frente da sua casa. O caminhão do lixo já dobrou a esquina e se aproxima. Meus passos, mesmo trôpegos, seguem para o meio da rua. Faltam poucos metros. A garoa é minha aliada. A porta da sua casa se abre. O caminhão freia, mas não evita o impacto. Deitada, num último suspiro, numa última visão, vejo você de mãos dadas com sua filhinha.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Sentimentos Mortais.


Sete e trinta da manhã. O despertador do celular castiga meus ouvidos. Odeio acordar cedo, ainda mais na TPM. Sem querer e já querendo, acabei acordando meu veio – apelido carinhoso do meu amor que me trata sempre como gatinha. Ele se virou na cama e me perguntou o que houve.
- Acordei com o útero virado hoje.
- Por quê? Gatinha?
- Pare e pense. São oito horas da manhã. Tenho que sair da cama, pegar a moto e andar treze quilômetros para ir limpar a casa da toupeira do Zé, que está dando em cima de mim há mais de um ano. Quer mais algum motivo?
- Não necessita.
O telefone toca.
- Mas que merda! Tinha que ser aquele estrupício do Zé. Alô!!
- Zuliana! Zá tá vindo?
- Não! Estou andando de avião. Eu já estou indo. Merda! Espera que daqui a pouco estou aí.
- Tá bom. Não picisa me cingar. É que eu zá fiz o cimarrão.
Terminei de me arrumar e peguei a moto. Não fosse pelo salário já teria enfiado uma taquara rachada no rabo daquele cretino, que para piorar não sabe sequer falar direito. Sua sorte é ser parente da minha mãe. Mas eu não estava nos meus dias e já não aguentava mais ver aquela cara de plástica mal feita.
Mal desci da moto e ele já veio.
- Bom dia. Pui quê demorou tanto?
- Porque eu estava fazendo um boquete na tua mãe.
Mal entrei na casa para começar a arrumar a bagunça daquele borracheiro fedorento e ele já pregou no meu pé feito carrapato.
- Saia daqui e vê se some lá na borracharia. Eu tenho que limpar esse chiqueiro. E vê se não me atrapalha.
- Mas não picisa limpar nada. Só me faz companhia pra tomar cimarrão que eu limpo depois.
- Zé. Pra começar, é chimarrão e o meu trabalho é limpar a tua casa. Então, desapareça daqui.
- Mas pui quê tu ficou baba? Não ganhou em casa hoze? Eu te dou. Tu sabe que eu tenho um sentimento por ti.
- É? Então tu vai sentir outro sentimento vindo de mim, dor. Some daqui o desencarnado.
- Mas eu te amo. Hoze eu acordei pensando em ti. Disse pra mim mesmo que hoze eu vou te levar pra cama.
- Mas não seja por isso. eu trago a cama até você em forma de porrada. Seu filho da puta. Me deixa sozinha, por favor.
- Mas daí é a morte.
- Eu vou te dar um bezo na boca. Eu te amo. O teu maridinho nunca vai saber. Pra que te guardar tanto? Enquanto tu tá aqui trabalhando ele tá lá com outra. Pensa que é só pra me azudar com meu problema. Tu sabe que eu tenho pedra nos rins e cada vez que eu fico com vontade de tanzar me dói os ovos. É só uma vez, nunca ninguém vai descobir.
“Meu Deus. Tu viu que eu tentei, que eu fui paciente. Eu aguentei mais de um ano aqui nesse inferno e que além de feio, é mais burro do que qualquer burro que já apareceu na face da terra”.
- Tudo bem. Então vamos lá Zé. Vai lá e te deita na cama, tira a roupa que eu vou fechar a borracharia primeiro para ninguém nos atrapalhar.
- Eu sabia que tu não ia resisti ao meu sarme. Zá to excitado.
Calmamente me dirijo até a borracharia, demoro um pouquinho e fecho as portas. Volto para a casa e paro na porta do quarto.
- Tenho uma fantasia que quero realizar com você Zé. Eu vou amarrar os teus braços, vou vendar os teus olhos e vou ficar por cima de você. Vamos brincar de andar de cavalinho.
Ele virou em sorriso e disse enquanto eu amarrava seus braços na cabeceira da cama.
- Tudo bem, eu sou um cavalo, mas tem que ser banco.
- Agora pensa que teu sofrimento com os rins vai acabar agora meu cavalinho branco. Abra bem as pernas garanhão.
Cheguei em casa e tomei um demorado banho e me perfumei toda para esperar meu véio chegar. Jantamos, tomamos umas cervejas e trepamos como animais no cio. Depois de ascendermos nossos cigarros ele me perguntou.
- Então? Como foi com o Zé?
- Resolvi meu problema com ele, definitivamente. O filho da puta passou da conta hoje. Queria a todo custo me comer. Eu já não aguentava mais aquela situação e resolvi por um fim nessa história.
- O que foi que você fez?
- Fiz de conta que aceitei trepar com aquele velho desgraçado. Mandei ele deitar pelado na cama e menti que tinha uma fantasia sexual e queria realizar com ele.
- Sério? Me conta.
- Disse para ele me esperar enquanto eu fechava a borracharia. Sem ele perceber eu peguei uma marreta que ele usava para tirar pneus de trator e deixei no lado da porta do quarto. Então amarrei aquele estrupício na cama e vendei os olhos dele. O velho bicha quase gozou só em saber da sacanagem. Topou na hora. Depois que ele estava bem amarrado, mandei ele abrir bem as pernas.
- E aí? O que aconteceu?
- Cruzes! Véio! A marretada pegou bem no meio dos ovos daquele filho da puta. Esparramou meleca para tudo quanto foi lado.
- Jesus! Até meus ovos doeram. Você é uma gatinha muito má. Deus me livre.Ele morreu?
- Da marretada não. Mas duvido muito que tenha escapado do fogo. Sabe como é meu veio, essas borracharias antigas sempre dão problema na fiação. Quando o fogo começou a tomar conta de tudo eu saí gritando como uma louca, pedindo socorro. Infelizmente o tadinho não conseguiu se salvar. Os bombeiros só acharam um montinho de carvão no meio da cama. Não está vendo como eu estou traumatizada?

Odeio a tua mãe.

- Hoje vou fazer faxina amor, você vai trabalhar e quando chegar, a casa vai estar limpinha e ainda vou fazer pra você aquele pudim que você adora.
- Vou trabalhar até a meia noite e meia.
- Está bem, vou tentar te esperar acordada.
- Não precisa minha gatinha, descansa tá! Beijo. Já estou atrasado.
- Tchau e bom serviço.
“Muito bem estou sozinha agora vou curtir uma música e começar a limpeza, esta casa está imunda, nunca vi, moramos somente nós dois e a casa está sempre podre”.
No meio da faxina o computador se desligou sozinho e ao mesmo tempo a campainha tocou, era a minha mãe que veio me fazer uma visita e aproveitar para fazer as unhas.
- Oi mãe, como está? Estou fazendo faxina. Entre.
- Tá bom filha. Quer ajuda em alguma coisa?
- Coloque uma água esquentar para fazermos um chimarrão, enquanto isso eu termino o serviço e ligo para o Rubens vir ligar a porra do computador antes que eu quebre essa merda.
Meia hora depois Rubens chegou, não trocou uma palavra, ligou a merda do computador, que só para de funcionar comigo, e voltou para o serviço do mesmo jeito que chegou. Eu sabia que ele detestava minha mãe, mas o que eu iria fazer? Não podia bater a porta na cara da minha própria mãe.
Ela percebeu tamanha revolta e decidiu ir para casa, com a desculpa que teria de recolher a roupa do varal. Fiquei mal. Dez minutos depois que ela saiu, meu telefone deu alerta de mensagem. Fui ler e vi que era o Rubens dizendo: “Sabe que odeio sua mãe e está na hora de você escolher entre eu e ela”. Porra! Eu não sabia nem o que responder, mas sabia que viria chumbo grosso pela frente. Fiquei em silêncio, não respondi e não liguei para ele, apenas fiquei esperando ele retornar do serviço. Não aguentei a espera e acabei adormecendo.
Foi inevitável não acordar quando ele chegou e abriu a porta com tamanha violência que por pouco os vidros da basculante não se quebraram. Estava feita a merda. Fiquei ouvindo seus gritos, suas lamúrias e xingamentos até às três da manhã, quando, vencido pelo cansaço, ele finalmente dormiu.
Quando o sol invadiu o quarto através da vidraça da janela, eu acordei assustada, decidida a ir embora. Passei um café e entrei pé por pé no quarto para pegar a minha roupa. Nesse momento Rubens acordou, me deu bom dia, me pediu um café e um cigarro, como se nada tivesse acontecido. Enquanto fumava e tomava café, ele me convidou para darmos um passeio pelo interior do município, dizendo que queria me mostrar alguns locais de rara beleza que havia descoberto em suas patrulhas durante o serviço.
Eu aceitei, pois precisava contar a ele a minha decisão. No meio do passeio eu puxei o assunto, mas na mesma hora o carro pifou, para variar, o motor ferveu, e para piorar ainda mais a situação, a estrada onde paramos era no topo de um morro, à beira de um penhasco. Só poderia ser praga de sogra, pois eu morro de medo de altura.
Rubens não me deu ouvidos, desceu do carro e pediu para eu abrir o capô dianteiro. Eu estava com medo, quase paralisada, mas aquela discussão da noite anterior não me saía da cabeça. Abri o capô e liguei o carro quando ele pediu. Enquanto ele mexia no motor ou sei lá onde, eu ficava martelando suas palavras da noite anterior – Eu odeio sua mãe, entendeu? Eu odeio sua mãe -.  Foi então que uma solução para tudo me ocorreu. Sem que ele percebesse, engatei a primeira marcha no carro, soltei o freio de mão e acelerei. O carro deu um solavanco para frente enquanto eu me jogava para fora. Rubens, que estava mexendo no radiador, foi golpeado pelo capô, que bateu em sua cabeça, fazendo seu corpo pender por cima do motor enquanto o carro despencava ribanceira abaixo, fazendo um barulho aterrador. Não sei se meus ouvidos me traíram, mas juro que ouvi seus ossos estalando.
- Esqueci de dizer, querido. Já fiz a minha escolha. E eu também odeio a sua mãe.